Neste blog, nós gostamos muito de falar sobre os tipos e a qualidade da alimentação e como isso está diretamente ligada à saúde e bem estar dos animais. Mas neste post nós vamos falar sobre o que pode causar intoxicação alimentar aos felinos, ou seja, vamos falar sobre o que você NÃO pode dar para o seu gato comer.
E por que esse assunto hoje? Porque nem tudo o que é seguro para nós humanos é seguro para eles.
Muitos alimentos comuns em nossas dietas podem ser extremamente tóxicos para os gatos, representando um risco real para a saúde deles. Neste artigo, vamos explorar uma variedade de alimentos que devem ser evitados a todo custo, para garantir que seu gato viva uma vida longa e saudável.
Afinal, a melhor maneira de demonstrar nosso amor por esses membros da família é cuidar daquilo que eles consomem diariamente.
Posso adiantar desde já que alguns dos tópicos mencionados no texto não são diretamente tóxicos para gatos, mas sim alimentos que podem causar desconforto ou problemas de saúde se consumidos em quantidades inadequadas.
Chocolate, Chás e Café
Eu sei que não é comum os tutores darem chá e café aos gatos, até porque são bebidas que, na maioria das vezes, são consumidas quente, mas é importante citá-lo aqui pela proximidade dele com o chocolate. As substâncias que eu vou citar a seguir não são metabolizadas da mesma forma nos corpos dos felinos, tornando-as extremamente tóxicas.
A intoxicação se dá pelos elevados teores das metilxantinas teobromina (3,7-dimetilxantina) e cafeína (1,3,7-trimetilxantina), componentes abundantes em chocolates à base de cacau (Theobroma cacao), chás derivados da planta Camellia sinensis L., cafés (Coffea arabica) e bebidas à base de Cola, entre outras fontes.
Os sintomas aparecem dentro de seis a doze horas após o consumo. Os sinais mais comuns são vômitos, diarréia, náuseas, tremores, convulsões, etc.
A teobromina, presente no chocolate, pode desencadear reações adversas no sistema nervoso dos gatos, resultando em agitação e hiperatividade, seguidas por uma fase de depressão. A morte devido ao consumo de doses fatais de chocolate ocorre aproximadamente 24 horas mais tarde.
A cafeína por sua vez, pode causar batimentos cardíacos irregulares e aumentar a pressão arterial, colocando um estresse significativo no sistema cardiovascular dos gatos.
Sinais clínicos: pode ocorrer desidratação, hiperatividade, arritmias cardíacas, hemorragias internas, hipertensão arterial sistêmica, taquipnéia, cianose, hipertermia, fraqueza, tremores, ataxia, convulsões, coma e morte. Em casos severos, os sinais podem persistir por até 72 horas.
O alto teor de gordura dos produtos de chocolate ainda pode provocar pancreatite em animais sensíveis.Tratamento: Levar o animal intoxicado ao hospital veterinário para a estabilização dos sinais clínicos e controle da temperatura é primordial. A indução ao vômito também pode ser favorável. Porém, em animais sedados devido a convulsões, pode se considerar lavagem gástrica. Além disso, medicamentos via intravenosa provavelmente serão receitados pelo médico veterinário.
Cebola e Alho: Inimigos Invisíveis
Cebolas e alhos, tão comuns em muitos pratos culinários, podem ser inimigos invisíveis para os gatos. Mesmo em pequenas quantidades, esses alimentos podem desencadear sérios problemas de saúde. Eles contêm compostos sulfurados que podem causar danos aos glóbulos vermelhos dos felinos, por isso pode levar o animal a ter anemia.
A gravidade dos efeitos depende da quantidade ingerida e do tamanho do gato. A dose tóxica para gatos é superior a 0,5% do peso vivo. Já os sintomas podem se manifestar dentro de alguns dias após a ingestão desses alimentos.
Sinais clínicos: A anemia resultante da ingestão de cebola e alho pode causar fraqueza e falta de apetite. Além disso, os gatos podem apresentar mucosas pálidas, gengivas esbranquiçadas e dificuldade respiratória, vômito, diarreia, taquicardia, pulso fraco, desidratação, etc.
Tratamento: Deve-se esvaziar o trato gastrintestinal e adotar terapias de suporte, principalmente fluidoterapia com Ringer Lactato e oxigenioterapia contínua.
Se necessário, considerar transfusão sanguínea e drogas antioxidantes, como vitamina E e acetilcisteína. Essas medidas resultam em um resultado favorável do tratamento, e os padrões saudáveis do animal tendem a voltar ao normal em cerca de 4 meses.
Leite e Derivados: A Lenda do “Gato Bebe Leite”
Gato não pode beber leite e eu vou explicar porque.
Mas, antes disso, quero ressaltar que este é um exemplo de alimento que não é tóxico, mas que pode sim fazer mal ao seu bichano.
Vários estudos realizados mostram que os gatos adultos não produzem lactase, enzima degradadora da lactose, que por sua vez é o principal carboidrato encontrado no leite e derivados lácteos, também chamada de açúcar do leite.
Essas enzimas responsáveis pela digestão da lactose estão presentes apenas nos gatos filhotes. Os gatos, à medida que vão ficando adultos apresentam uma diminuição dos níveis da lactase no intestino, por isso este alimento pode fazer mal para o gato.
Ou seja, gato filhote bebe leite e o leite da mamãe gata e não leite de vaca. Mas infelizmente existe uma crença popular de que está tudo bem dar leite para os gatos adultos. Não está tudo bem!
Sinais clínicos: O consumo pode resultar em desconforto gastrointestinal, incluindo diarreia e dor abdominal. Embora alguns gatos possam não apresentar sintomas imediatos, a exposição contínua à leite e derivados lácteos pode levar a problemas de saúde a longo prazo.Tratamento: Deve-se adotar terapia de suporte, fornecendo água fresca imediatamente, em pequenas quantidades e de forma regular. Alguma manipulação com medicamento pode ser realizada, de acordo com a orientação do médico veterinário, para conter as dores e a diarreia.
Uvas e Passas: Pequenas e Perigosas
Uvas e passas são alimentos pequenos e aparentemente inofensivos, mas podem causar insuficiência renal aguda em gatos. Mesmo uma pequena quantidade pode levar a um quadro sério de mal estar.
Embora as uvas e passas possam parecer lanches saudáveis e inofensivos para os humanos, essas pequenas frutas carregam um perigo significativo para os gatos. Mesmo em quantidades mínimas, as uvas e passas podem desencadear reações adversas graves nos felinos.
O Princípio tóxico é ainda desconhecido e seu mecanismo de ação ainda não foi elucidado. A investigação de casos individuais de intoxicação parece excluir a contaminação das uvas com pesticidas, metais pesados ou micotoxinas.
Sinais clínicos: os gatos podem apresentar já nas primeiras 24 horas após a ingestão vômitos, diarreia, letargia e falta de apetite,
O dano renal pode progredir rapidamente, por isso você deve buscar atendimento veterinário imediatamente se você suspeitar que seu gato consumiu uvas ou passas.Tratamento: uma das recomendações terapêuticas é a fluidoterapia intravenosa nas primeiras 48 horas, a fim de reidratar e manter a função renal, devendo ser realizada imediatamente naqueles animais que apresentarem vômitos e/ou diarreia espontânea. Também é indicada a desintoxicação do trato gastrointestinal com eméticos ou lavagem gástrica. Além disso, o vômito também pode ser induzido com peróxido de hidrogênio a 3% .
Abacate
Poucos sabem, mas o abacate é potencialmente tóxico para várias espécies, incluindo os felinos. Apesar de não haver muitos relatos de casos de intoxicação em gatos e a dose letal ser desconhecida, é bom a gente ficar em alerta com o abacateiro. Sim, não só a fruta, mas as folhas e sementes são tóxicas.
Acredita-se que a toxina fúngica denominada persina seja responsável em desencadear acúmulo de líquido nos pulmões, dificultando a respiração. Fluidos podem se acumular nos tecidos como coração, pâncreas e na cavidade abdominal. Além disso, por ser rico em gordura, a ingestão de alta quantidade de abacate pode levar à pancreatite.
Sinais clínicos: animais intoxicados podem apresentar dispneia, abdomem redondo e inchado devido acúmulo de líquidos na barriga, edema generalizado devido à infiltração de líquido.
Além disso, irritação gastrintestinal, vômitos, diarreia, letargia e taquicardia podem surgir em até 24 horas após a ingestão da fruta, além de morte e, embora não tenha relatos em gatas, mamíferos lactantes podem apresentar edema de glândula mamária e produzir leite com aspecto alterado.Tratamento: A terapia é de acordo com os sintomas, podendo ser recomendado diuréticos, drogas antiarrítmicas, entre outros, dependendo do quadro clínico. Anti-inflamatórios não esteroidais e analgésicos são recomendados para animais com inflamação na glândula mamária ou mastites.
Adoçante xilitol
Alguns adoçantes artificiais, presentes em muitos produtos sem açúcar para humanos, podem levar a uma rápida liberação de insulina em gatos, causando complicações sérias no animal. O adoçante artificial xilitol, em particular, é extremamente tóxico para os felinos.
Quando os gatos consomem alguma guloseima contendo xilitol ocorre uma rápida liberação de insulina, o que pode levar a uma diminuição drástica dos níveis de açúcar no sangue, resultando em hipoglicemia grave.
Sinais clínicos: Os sintomas incluem vômitos, letargia e convulsões, perda de coordenação e até mesmo coma.
Tratamento: Pode-se induzir o vômito de imediato após a ingestão do produto contendo xilitol e antes dos sinais clínicos surgirem, podendo administrar pequenas quantidades de açúcar por via oral.
Entretanto, após o aparecimento dos sinais clínicos, é de suma importância levar o animal ao hospital veterinário para fazer o tratamento de suporte com solução de Ringer dextrose intravenoso deve ser administrado para controlar a hipoglicemia, devendo-se tratar o paciente para hipocalemia, se necessário.
O tratamento deve ser continuado até que os níveis de glicemia retornem ao normal.
Outros alimentos
Alimentos gordurosos, como frituras, podem levar ao desenvolvimento de problemas pancreáticos em gatos, causando pancreatite. Essa inflamação do pâncreas pode resultar em sintomas graves, como vômitos persistentes, dor abdominal intensa e letargia.
Ossos de frango podem se fragmentar em pedaços afiados e pontiagudos durante a mastigação, representando um perigo real de perfuração ou obstrução no trato gastrointestinal do gato. Além disso, os ossos pequenos podem se soltar e causar engasgos graves, resultando em dificuldades respiratórias e potencialmente exigindo intervenção veterinária de emergência.
O peixe cru também apresenta riscos semelhantes. Esse alimento pode conter pequenos ossos que são difíceis de detectar e podem causar engasgos ou lesões internas. Além disso, o peixe cru pode abrigar parasitas, como a anisakíase, que podem causar doenças gastrointestinais e outros problemas de saúde em gatos.O álcool é extremamente perigoso para os gatos, mesmo em pequenas quantidades. Pode causar intoxicação, depressão do sistema nervoso central e danos ao fígado.
Como identificar se o gato está com intoxicação alimentar?
Segundo a Dra. Stefanie Waller, os sinais clínicos de intoxicação alimentar não são muito específicos.
Os gatos podem apresentar vômitos, diarréias, tremores, apatia e depressão, além de outras apresentações clínicas, de acordo com o componente tóxico presente no alimento ingerido.
A prevenção é sempre o melhor remédio
É fundamental quando se trata desses alimentos tóxicos. Mas, se você suspeitar que seu gato ingeriu qualquer quantidade desses alimentos, é crucial buscar atendimento veterinário imediatamente. Não espere e não tente resolver em casa.
O diagnóstico e tratamento precoces podem fazer toda a diferença na recuperação do seu felino.
Certifique-se de que o chocolate e o café e outras comidas perigosas estejam armazenados de maneira segura, longe do alcance dos gatos. E digo mais, certifique-se se suas visitas não vão dar, na forma de petisco, algum desses alimentos citados para os seus filhos de quatro patas (esse recado vale para gatos e cachorros).
Ao evitar esses alimentos citados neste post, você estará investindo no bem-estar e na saúde do seu companheiro felino.
O amor que você tem pelo seu gato é demonstrado não apenas através de carinho e brincadeiras, mas também por meio dos cuidados diários, incluindo uma alimentação segura e adequada.
Qualquer dúvida sobre o assunto desse post, deixe nos comentários.
Referências
- WALLER, S.B. et al. Intoxicações em cães e gatos por alimentos humanos: o que não fornecer aos animais? Revista Veterinária em Foco, v. 11, n. 1, p. 59-74, Canoas, 2013.
- GASCHEN, F. P.;MERCHANT, S. R. Adverse food reactions in dogs and cats. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 41, n. 2, p. 361-379, 2011.
- GIANNICO, A. T. et al. Alimentos tóxicos para cães e gatos. Colloquium Agrariae, v. 10,n.1,p.69-86, 2014.
- GWALTNEY-BRANT, S. M. Toxicose do abacate em animais. Disponível em: Toxicose do abacate em animais – Toxicologia – Merck Manual Veterinário (merckvetmanual.com). Acesso em: 15 de agosto de 2023.