Você já deve ter ouvido falar que é comum gatos terem problemas no trato urinário, como cálculo renal. Aqui você vai entender o que acontece, porque acontece e como prevenir esse tipo de situação.
A DESVANTAGEM NOS RINS
Todo mundo sabe que os rins são os órgãos responsáveis pela produção da urina a partir da filtração do sangue, eliminando assim o que não é bom para o organismo do animal. O que poucos sabem é que essa filtragem ocorre graças às estruturas chamadas de néfrons (5) e que os gatos naturalmente possuem menos néfrons que homens e cães, ou seja, eles já têm uma predisposição a ter doenças renais (6).

A SAÚDE DO XIXI
O ideal seria que todo tutor fizesse exames periódicos para acompanhar a saúde de seu pet. Em se tratando de problemas urinários, um método simples é o exame de urina. O pH urinário é determinado pela qualidade e balanceamento dos macroelementos dos alimentos.
Segundo a médica veterinária, Dra. Juliana Toloi Jeremias, “a capacidade do organismo em acidificar ou não a urina se deve ao metabolismo e catabolismo dos aminoácidos sulfurados e dos minerais fósforo, cálcio, magnésio, sódio, potássio e cloro presentes na dieta, refletindo-se no controle da excreção de amônio e bicarbonato pelos rins”. Ela acrescenta ainda que “o pH urinário é um dos fatores que influenciam a precipitação e a formação de inúmeros tipos de cristais, consequentemente podendo prevenir ou predispor ao desenvolvimento de urolitíases” (1).
O que o animal come, bem como a quantidade e a frequência tem influência direta no pH da urina, por isso há uma variação do valor ao longo do dia. Estima-se que o limite fisiológico para o pH urinário de cães e gatos está entre 8,5 e 5,5 pH. Geralmente, para a maioria dos gatos com idade inferior a sete anos, o pH urinário diário ideal deve estar na faixa entre 6,2 e 6,4 pH (1). Já para os gatos com mais de 10 anos e gatos de certas raças específicas (Birmânia, Persa e Himalaia), p pH do xixi fica na faixa entre 6,4 e 6,6 (ALLEN; KRUGER, 2002) (9).

DOENÇAS DO TRATO URINÁRIO QUE AFETAM OS GATOS
A denominação Doença do Trato Urinário Inferior (DTUI) ou Síndrome Urológica Felina (SUF) é composta por qualquer alteração na bexiga e uretra de gatos, que pode ser por urólitos de estruvita ou oxalato de cálcio, tampões uretrais, defeitos anatômicos vesicais, infecções urinárias bacterianas, virais, além de alterações neoplásicas (4). A DTUI pode acontecer de duas formas: não-obstrutiva e obstrutiva.
A uropatia obstrutiva é o bloqueio do fluxo urinário, que pode afetar um ou ambos os rins, dependendo do nível da obstrução. Isso pode acontecer devido à urolitíase ou tampões uretrais de matriz cristalina.

A urolitíase é a formação de urólitos de estruvita ou oxalato de cálcio na urina, sendo assim uma uropatia obstrutiva. É popularmente conhecida como pedra nos rins. Pode afetar os animais com menos de 10 anos de vida.
Os tampões uretrais consistem em matrizes de proteína e colóide que foram cristais em seu interior, capazes de produzir obstrução uretral. Gatos normais produzem com frequência cristais na urina, principalmente quando são alimentados com comida seca (GUNN-MOORE, 2003).
A infeção do trato urinário (ITU) é causada por bactérias que produzem a urease – enzima capaz de transformar a ureia em gás carbônico e amoníaco. Esta é a causa mais comum de doença do trato urinário inferior não obstrutiva em animais com mais de 10 anos.
A Cistite idiopática é um processo inflamatório na bexiga. Geralmente afeta animais entre dois e seis anos de idade. Gatos que só comem ração seca, que moram em ambiente estressante ou superlotado, obesos, agressivos, que não possuem um ambiente higiênico para fazer suas necessidades ou que sofrem ansiedade por separação de seu tutor são mais susceptíveis a desenvolver a doença (7).
SINTOMAS DE QUE SEU GATO PODE ESTAR DOENTE
O quadro clínico mais frequente pode incluir sinais isolados ou associados de sangue na urina (hematúria), eliminação lenta e dolorosa da urina, (estrangúria), dificuldade ou dor ao urinar (disúria), urinar várias vezes em volume reduzido de xixi (polaquiúria), alterações comportamentais como urinar fora do local habitual (periúria), presença de cristais na urina (cristalúria) e obstrução uretral (4).
A investigação para identificar tais doenças pode ser feita através de exame de urina para determinar o pH urinário, exame de sangue para determinar a concentração de cálcio no soro e através imagens avançadas, tais como a cistoscopia, ultrassom ou uretrocistografia com contraste podem ajudar também (2).
O diagnóstico e o tratamento devem ser realizados por um médico veterinário.COMO PREVENIR DOENÇAS DO TRATO URINÁRIO
COMO PREVENIR DOENÇAS DO TRATO URINÁRIO
Os gatos gostam de água limpa e fresquinha. Então, evite deixar a água suja e quente. O ideal é trocar a água do recipiente todos os dias. Isso já é um incentivo para que seu gato beba mais água!
Uma boa ideia é ofertar ao seu bichano rações úmidas. Existem vários tipos no mercado, como sachês e enlatados. Estas variam de 60% a 85% de umidade.
Às vezes, o gato é preguiçoso ou já está com a idade avançada, então ele fica com sede, mas não se levanta para ir lá no potinho beber água. Então o que a gente pode fazer é espalhar várias vasilhas com água pela casa/apartamento, facilitando assim o acesso.
Evite obesidade e situações de estresse, como mudanças bruscas na rotina, competição por água e comida, ambientes pequenos com vários animais, etc.
Conceda um ambiente com atrativos, como brinquedos e esconderijos, para que o animal se sinta seguro e feliz. O bem estar não só diminui as chances do gato ser acometido por alguma doença, mas também alivia os sintomas caso ele já esteja dodói (4).
Mantenha o local do gato fazer cocô e xixi reservado, silencioso e sempre limpo para evitar que ele fique apreensivo na hora de fazer suas necessidades.
Os gatos não gostam de roçar os bigodes na borda do potinho (sim, eles são exigentes e a gente que lute, rs). Então, para facilitar a vida deles, opte por bebedouros com a borda mais larga.
Observe se seu gato não é muito fã de beber água em pote, mas adora beber em fontes de água corrente (torneira ou chuveiro, por exemplo). Neste caso, seria bacana investir em um bebedouro tipo fonte para gatos.
Mas, se seu gato bebe água em bebedouro comum, não o estimule a beber em água corrente, pois isso pode fazer com que ele se acostume e acabe virando um problema, por exemplo, ele passar o dia todinho sem beber água esperando que você ligue a torneira pra ele poder se hidratar.

QUANTIDADE DE ÁGUA SEU GATO PRECISA BEBER
Não há uma quantidade EXATA, até porque o consumo de nutrientes, sais, vitaminas e minerais vai de acordo com cada período da vida (crescimento, adulto, idoso) bem como o estado fisiológico/reprodutivo (castrado, gestante, lactante). E se houvesse, seria difícil mensurar e controlar a ingestão hídrica do nosso gato no dia a dia. Mas, dá pra se ter uma noção de quanto do que seria o ideal.
A médica veterinária Laila Ribas (2017) recomenda que um gato precisa beber por dia, aproximadamente, 60 ml por quilo de peso vivo do animal (6). Exemplo: se seu gato pesa 4 kg, ele deve beber mais ou menos 240 ml de água por dia. “Outra maneira de calcular a quantidade aproximada é de acordo com as calorias que um gato ingere durante o dia. Por exemplo: um gato que ingere 260 Kcal/dia deve beber 260 ml de água”.
FECHAMENTO
Como vimos, a situação é complicada. São muitos fatores que influenciam a saúde do trato urinário dos gatos, como a alimentação, a quantidade e qualidade da água, além da predisposição dessa espécie. Mas a solução é muito simples: ofereça água boa, fresca e de fácil acesso e estimule seu bichano a bebe-la com mais frequencia!
Referências
- Layout 1
- JEREMIAS, J.T. et al. Predictive formulas for food base excess and urine pH estimations of cats. Animal Feed Science and Technology. v.182, p 82-92, 2013.
- apostila-nutricao-caes-e-gatos-2019.pdf (unesp.br)
- Pereira, J.D.B. Doença do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF): aspectos etiológicos, diagnósticos e terapêuticos. Universidade Federal Rural do Semi-Árido, 2009
- Néfrons | Anatomia, Função e Fisiologia
- Como-incentivar-seu-gato-a-beber-água.pdf (ufpel.edu.br)
- Cistite Idiopática – Portal Medicina Felina
- GUNN-MOORE, D. A. Feline lower urinary tract disease: Proceedings of the ESFM Feline Congress, Stockholm, September 2002. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 5, p. 133 – 138, 2003
- LLEN T.A.; KRUGER J.M. Feline Lower Urinary Tract Disease. In. Small Animal Nutrition 4 ed. Topeka Kansas: Mark Morris Institute, p. 689-723, 2002